Temas como a morte, a ditadura e a bissexualidade são, sim, assunto para crianças e adolescentes. É como pensa o escritor Clovis Levi, de 71 anos, autor de infantojuvenis que tratam dessas e de outras questões consideradas polêmicas para esse público, mas com delicadeza e humor. Dramaturgo, autor de peças teatrais premiadas, novelas e seriados para a televisão, Levi estreou na literatura há nove anos inspirado pelo nascimento da neta Izadora. Os efeitos de seu olhar sensível estão nos livros O beco do pânico (Globo Livros), A cadeira que queria ser sofá e Proibido pensar (Viajante do Tempo) – publicados no Brasil e em Portugal, onde o autor esteve por onze anos trabalhando com teatro – e nos novos títulos que estão a caminho. Confira a conversa do autor com a Oasys.
Seu livro infantil A cadeira que queria ser sofá gira em torno da morte, enquanto o juvenil O beco do pânico aborda bissexualidade e preconceitos. Sua literatura é norteada por temas considerados “difíceis”, “para adultos”. Por que escolheu esse caminho?
São temas que me interessam particularmente, que me instigam – e o meu trabalho consiste em descobrir uma narrativa que possa interessar ao leitor adolescente e também às crianças. Apesar dos temas “pesados”, me cobro todo o tempo para que o humor e a delicadeza estejam sempre presentes. Além de O beco do pânico (Globo Livros) e A cadeira que queria ser sofá (Viajante do Tempo), tenho um outro livro dentro dessa linha “polêmica”, que é o Proibido pensar (Viajante do Tempo), texto que trata dos regimes totalitários (e, por extensão, da ditadura militar vivida por nós a partir de 1964).
Você tem alguma estratégia para escrever, de modo a falar uma linguagem mais leve e próxima do seu leitor?
Como disse acima, delicadeza e humor. E é fundamental a existência de uma trama viva, com surpresas, reviravoltas – enfim: aventura.
Qual a importância, na sua visão, de que as crianças e adolescentes se familiarizem ainda nesta fase com questões como essas?
Os adolescentes de hoje são obrigados, pela dinâmica de seu cotidiano, a estar conscientes das complexidades da vida – eles, hoje, vivem uma realidade muito distante da vivida pelos adolescentes da primeira metade do século passado, por exemplo. Já as crianças, na minha visão (haverá discordâncias, é claro), devem penetrar na fantasia, no delírio da imaginação, mas, ao mesmo tempo, saber que o mundo cor-de-rosa não existe.
O que pensa da literatura infantojuvenil produzida atualmente?
Cheguei um pouco atrasado a esse universo. Meus filhos já têm mais de 40 anos e só estive em contato mais íntimo com a literatura infantojuvenil quando eles eram crianças. Só agora começo a ler o que se produz atualmente. Tenho muito trabalho (e prazer) pela frente, para poder ficar atualizado.
Você já tinha, antes da literatura, uma carreira consolidada como diretor, crítico e professor de teatro. Quando e por que começou a escrever?
Sempre escrevi. Mas minha vida profissional esteve ligada ao teatro e à tevê. Tive peças premiadas (Se chovesse, vocês estragavam todos, coautoria de Tania Pacheco, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, encenada em diversos países) e textos meus montados no Rio pelo Sérgio Britto. Na era do rádio e Ai, ai, Brasil foram os que tiveram mais repercussão. Na televisão, fui roteirista de novelas na Bandeirantes, na extinta Manchete e, na Globo, dividi com Dias Gomes os episódios de O Bem Amado (a cada mês, ele criava três episódios e eu criava um). Para crianças e adolescentes comecei a escrever depois que minha neta Izadora nasceu, há nove anos. Na literatura, Izadora foi a minha fonte de inspiração.
De que modo sua experiência roteirizando e dirigindo peças influencia seus temas e estilo de escrita?
Quanto à temática, não influencia nada. Mas aprendi muito no teatro e na tevê sobre estrutura: roteiro de acontecimentos, abertura, pontos de virada, clímax.
E sobre os novos projetos, há algo que possa adiantar?
Tenho três inéditos – todos encaminhados para concursos: dois livros adultos e mais um para adolescentes. E, agora em março, acabei de ter meus livros da Viajante do Tempo no estande brasileiro do Salão do Livro de Paris.
Por Carolina Drago